CARREGANDO MINHA CRUZ

Escrevo meus poemas para eu mesmo ler. Se outros o fazem, acho bom, mas tenho dificuldades em aceitar críticas, porque tudo o que escrevo são experiências da alma. São punhados de terra que, depois de cavado o solo, não cabem mais no mesmo buraco: misturam-se a outros punhados de terra. Embora sinta uma dor sem remédio, prefiro a desilusão provocada pela crítica, o desmascaramento do rosto que se apresenta pálido depois que a maquiagem é tirada. Não quero deixar de ser o centro e por isso me centro naquele que critica e não na crítica. Levo para o lado pessoal. Sou latino. A capa bonita que uso e que se chama orgulho encobre o defeito, a frustração, a limitação; o medo de chamar a atenção. Se aceitar que alguns sentimentos genuinamente humanos afloram quando me deparo com situações genuinamente humanas, me sentirei fraco. Mas, corajoso, aceito. Ser sempre forte só expõe a hipocrisia negada. Tenho aprendido tantas coisas diferentes sobre tantas coisas indiferentes, e é tão difícil ensiná-las. A escola ainda planta as mesmas ervas daninhas que intoxicam as mentes, os corpos e as ações, e quando tento escrever no retangular espaço suspenso no ar o giz se quebra, ou às vezes as cores se misturam e ninguém enxerga o que foi escrito em forma decrescente por falta de linhas. Professei por tanto tempo o que levei tanto tempo para acreditar e ninguém quis dar ouvido. Professava, e depois que tomava um pouco d’água pra molhar a garganta já seca, escutava sempre alguém dizer: ‘Quem creu em nossa pregação?’ Não quero ser professor. Só quero professar o que acredito que acredito em meio ao inacreditável ruído das grades e portões de ferro. A cruz de madeira metia medo, porque era de fabricação própria. A de neón custa dinheiro, mas ninguém a teme.
                                                                                       
                                                                                        Abilio Arruda